eu e minha metade inteira

eu e minha metade inteira
quinta da boa vista, quase ontem

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

das antigas.... 2

Reticências
Escrevo como se escrevesse para alguém, alguém que não vai ler, talvez porque eu nunca conte que escrevi. Escrevo como se a história já estivesse pronta e coubesse a mim apenas transcreve-la, escrevo como se ao escrever passassem a viver, existir, como se alguém nunca pudesse conta-las, como se só tomassem forma quando ditas por mim.
Escrevo como se fosse uma carta, para alguém que não sabe ler. Ou uma carta de amor para um amor que não existe, que nunca foi sentido, que ainda não nasceu. Uma carta para contar a saudade de alguém que não vai voltar ou que pode entrar a qualquer momento pela porta e arrebatar-me com um beijo de dragão.
Escrevo como se fosse uma mensagem paranormal para aquele que precisa de conforto, para aquele que acha que não precisa mais de nada, uma mensagem terrena para os anjos que moram com o pai.
Escrevo como num panfleto de grêmio secundarista: Companheiros...Decidimos...Propomos...,  escrevo como se escrevesse num vazio, que nada diz para quem nada lê; para quem pega, amassa e pisa no que escrevo. Mas por quê alguém TEM que ler? Decidimos? Companheiros? Propomos? Nós quem?
Escrevo, mas não escrevo direito não, nas minhas gramáticas, regras ortográficas, dicionários e manuais, desconheço qualquer tipo , modo ou gênero de ponto final...
Escrevo como se sempre faltasse algo a dizer...
                                                                                         03/06/1998

das antigas....

Vermelho de sangue
            Era uma vez, há muito tempo atrás, em um lugar muito distante, um povoado de reinos que eram felizes para sempre.
             Naquele lugar muito distante e muito estranho (talvez pela distância tenha se tornado estranho ou vice-versa) toda senhora de família nobre e estruturada era rainha do território que pudesse comandar, geralmente era a idosa rainha que passava o trono para sua filha mais velha, digo geralmente, porque quando as rainhas resolviam, poderia passar o trono para uma das netas, geralmente a mais adorável. Com isso toda mulher ficava muito preocupada em ter filhas adoráveis, pois corriam o risco de perder o trono para seu próprio rebento.
            Não adiantava nenhum quebranto, durante séculos e milênios continuavam a nascer meninas belas e adoráveis, como os homens não tinham praticamente importância nenhuma nessa história, as mulheres não podiam se dar ao luxo de “liquidar com o problema” pois acabariam sem ter ninguém para passar a sua coroa.
Durante séculos tudo correu bem, as netas eram criadas longe de suas avós, uma grande e densa floresta as separavam e as mães mantinham uma lenda de um lobo muito mau que morava na floresta e impedia as meninas de irem visitar suas avós sem os olhares atentos de suas mães.
Na casa de Chapéu as coisas eram um pouco diferentes, na sua família, muito tradicional, nunca houve um caso sequer de uma neta ser coroada rainha, portanto sua mãe, um pouco descansada, deixava a Chapéu visitar a Vó de vez em quando. Ensinou-lhe um outro caminho que não era o da floresta para Chapéu ir sem medo, pois a lenda do lobo era tão real por aquelas bandas que até sua mãe acreditava nela.
Os anos passavam e Chapéu crescia, cada vez mais adorável, sua vó se apaixonava cada vez mais por ela e levando em conta seu mal estado de saúde, começava a cogitar a idéia de dar a coroa a sua querida neta.
Todos os habitantes do povoado começavam a comentar: a família mais tradicional daquelas bandas iria desmoronar perante o reina  de uma fedelhinha. Quando Dona Mãe soube chorou um dia e uma noite, logo ela, uma filha tão dedicada, não iria ser coroada rainha. O ódio começou a tomar conta daquele doce coração e as idéias macabras rodopiavam em sua cabeça e esbarravam em seus neurônios como pipas em fios de alta tensão.
Depois de tanto pranto, enxugou as lágrimas e sacudiu a cabeça para afugentar as maldades que a atormentavam, caminhou quieta até a cozinha e foi preparar uns deliciosos quitutes para a sua querida mãezinha.
Chamou Chapéu e pediu à filha para levar os docinhos para a velha rainha, já conformada, a Mãe sentia-se triste, mas um pouco orgulhosa de saber que sua pequena poderia ser a próxima a ser coroada, demonstrou seu carinho e compreensão deixando a filha visitar a sua vó querida.
A Mãe resolveu que tinha pressa em fazer os quitutes chegarem à Avó e falou para Chapéu ir pelo caminho da floresta mesmo e disse à filha que o lobo, afinal, era uma lenda para afastar as netas de suas avós e que não havia perigo não.
Chapéu, obediente, seguiu pelo caminho da floresta. Ah...Como já se sentia linda, como uma própria rainha! Sua vó já havia deixado por escrito o seu desejo em coroa-la, um segredinho das duas, só que Chapéu teria que esperar um tempo, a avozinha precisava morrer primeiro. Dedicada como ela só, Chapéu estava disposta a ajudar sua querida vó.
Ia ela pensando assim, andando, colhendo umas frutinhas e colocando na cesta, quando de repente deu de cara com o lobo!
Que bicho feio, horroroso. “Como mamãe foi capaz de me enganar?” _pensou Chapéu. “Tive a quem puxar...” Mas Chapéu com seu charminho conversou, convenceu, cativou, o lobo foi ficando manso, mole, duro e depois de tudo, acabou dormindo nos braços da Chapéu, que levantou, se vestiu e prosseguiu sua caminhada em direção a casa da vovó.
Vó adorou as frutinhas vermelhas que sua netinha colheu com tanto amor e cuidado, comeu uma a uma, sua adorável neta nem quis provar, deixando sua avozinha saborear sozinha as frutinhas que a levaram a dormir o sono eterno de um anjo. Chapéu deu meia volta e calmamente saiu pelo caminho da floresta, voltando para casa e até torcendo para reencontrar o Lobo.
Nesse ínterim, o Lobo acordou desesperado e correu, correu muito até a casa da Mãe, para contar que aquela doçura de criança na verdade era uma adolescente malditazinha que o persuadiu, que ele não conseguiu cumprir o prometido e, pelo contrário, acabou sedento nas garras dela e ...
A Mãe não podia acreditar naquilo tudo - quem mandou confiar no Lobo – um misto de ciúme e ódio, ser trocada pela filha, por conta da mãe e do seu amor!  Além do mais, matar sua cria é uma coisa, mas o que o Lobo disse que fez foi demais, ela nunca tinha tido coragem de pensar algo tão pavoroso.
Desesperada, bateu com um pau na cabeça do Lobo até mata-lo e pôs -se a correr.
Chapéu, calmamente, pulou a janela onde viu toda a cena do desespero da sua mãe, se desgrenhou e adentrou pela casa gritando e chorando acusando a Mãe de ter um caso com o Lobo e por sua avó ter descoberto, a Mãe a envenenou, usando Chapéu como arma. Ela voltando da casa da vó viu uma cena de pavor tão grande para seus olhos de menina que paralisou. Sua mãe querendo acabar com aquilo teria tentado mata-la e até o desumano Lobo se solidarizou e pôs-se entre o pau e a menina, levando a paulada fatal.
O amigo caçador, que havia chegado a casa a pouco atrás das pegadas do Lobo, após ouvir sua convincente história, tratou de achar a maldosa mãe e após caçar a fugitiva, Chapéu, já rainha e dona da coroa, condenou-a a masmorra para todo o sempre.
Agora são os gritos estridentes e horrendos da Mãe que assustam as netinhas na floresta.
Afinal, alguém tinha que substituir o Lobo.

                                                                                                11/06/98






Professores!

Quem for professor tem obrigação de visitar, seguir e divulgar o outro blog:


www.leituradomundoedapalavra.blogspot.com


e quem for meu amigo tem obrigação dupla!!!!!!!!!!!!!!!
Natal 2010

coloquei as duas para a menina doce feito mel não falar que eu não rio em fotos! 

lendo Mia Couto.

Fio das Missangas, lindo, recomendo e tenho no computador, quem quiser pede que mando.

mas não consigo ler na tela e nem impresso, parece que estou traindo o livro, que tanto amo, então fui na Saraiva e comprei o objeto livro.

Podem me chamar de doida, não ligo!

Por Nárnia!

Bem, amo filmes de guerra! Pode parecer doido dizer isso assim, falando de Nárnia, mas eu adoro magia misturada com guerra: ter um motivo pra viver e morrer. Por Nárnia, por Aslam e se jogar mar adentro! Adoro cenas de luta em campo aberto, aquele som de nada apenas a certeza que vale a pena.
Não se assustem meus fieis 5 leitores, sou filha de Ogum, nasci sob o signo de Áries, Deus da guerra e trago ela em meu nome. É esperado que campo de batalha me fascine!

O Peregrino da Alvorada é lindo, até porque se passa quase todo no mar (outra paixão) e como vi em 3D parecia que eu esatva ali, dentro do mar.

Aslam perfeito, como sempre, o tipo de Deus criador que eu acredito! e o que era o dragão? perfeito!
Muito tempo sem escrever, mas não é falta do que dizer, pelo contrário! Fim de ano é meio doido... ele tem 365 dias pra passar e quando chega ao fim parece que podia ter mais um tiquinho pra dar tempo.... o engraçado é que continua igual no ano que vem, essa fatia de esperança renovada que chamamos de ano novo.

Fim de ano é tempo de balanço, mas não vou escrever sobre isso agora, fiz pouco o que havia me prometido em 2010 e o ano termina de uma maneira muiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiito diferente do que imaginei, em janeiro estava me preparando para ser mãe, sem p[ílula, tomando ácido fólico, enfim, termino o ano sem marido! Putz que parola!

Mas não posso reclamar do ano que se vai, fiz amigos, em especial uma doce como mel, estive perto dos antigos e tive a certeza que sem eles eu não sou ninguém! Vi uma grande e amada amiga perseguir a vida que sempre quis e consegui-la passo a passo, porque seu olhos, sua ternura e tranquilidade já denotam sua mudança. E decidi que não vou mais impor minha maravilhosa presença aqueles que não a desejem, embora esteja sofrendo de saudades (e não estou falando do Zé, embora também tenha saudades).

Poderia dizer que pro próximo ano desejo emagrecer, mas seria falso porque quem desja faz por onde e estou longe disso.... Então digo que quero fazer exercício físico de janeiro (depois da Bahia) até dezembro. E que vou tentar me alimentar melhor (depois da Bahia, porque vou me jogar no acarajé!) Quero tentar aprender a língua do inimigo e vou levar a sério isso, mas depois da Bahia, porque lé quero falar baianês, e quero também aprender da dirigir, mas só quando voltar da Bahia. Bem acho que vou prometer, prometer qualquer coisa qundo voltar da Bahia!

Então, quando voltar venho ao blog, faço um balanço sério de 2010 e as promessas para 2011.

Combinado?

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

um pouco do desafio deste ano e a concretização dele








Estando no fim do ano, e também no fim do livro, começamos o momento de avaliação final, refletindo em torno desta turma, dos objetivos iniciais, das vitórias, dos entraves. Dos 23 alunos (no início do ano eram 25 mas dois foram transferidos por motivo de mudança residencial) dois alunos apresentaram um número de faltas que excede e muito o aceitavam por lei (LDBEN 9394/96), infelizmente nossos esforços em comprometer a família com a parte que lhe cabe, não surtiu o efeito necessário.
Todos os alunos terminam este ano (e o livro) com uma história pra contar, uma história com a leitura e escrita feita com muitas dificuldades, é verdade, mas também com surpresas, descobertas e alegrias. Adriano um dia me falou, cheio de orgulho: “Eu sei ler!”, e acrescentou: “Mas minha mãe não acredita.” Adriano, nem você acreditava a tão pouco tempo.... No início do ano a palavra que mais ouvia era não, hoje tem até briga para ler primeiro.
Tive o prazer de ouvir uma mãe dizer: “Eu sei exatamente qual a atividade que fez meu filho ler, foi aquela, tia Amanda de colocar no lugar as palavras da música ‘Na base do beijo’. Essa mãe me deu um presente que não esperava receber, a certeza que dá certo e que os responsáveis compreendem o que às vezes nossos colegas não. Isso dá ou não dá um livro?
Sim, tivemos entraves, e tristezas. Embora acredite que é possível, e apesar de todo o avanço de todos os alunos, alguns encontram-se hoje (15/11/2010) sem a autonomia na leitura e complexidade na escrita necessárias para a sua aprovação para o 4º ano de escolaridade.
Mas o que conseguimos com este projeto, construir com o livro a valorização de sua capacidade de aprender, espero que nada e nem ninguém, consiga tirar destes alunos.

Sobre Nárnia:


Não vi ainda o seu 3º filme, e vou tentar resistir a tentação de reler a Crônica antes de vê-lo para não acabar comparando como fiz com Potter 7.1. Mas não me furtarei o prazer de dar pitaco, aqui e no caderninho da mana.
“As Crônicas de Nárnia” reúnem 7 crônicas, que já foram publicadas em separado e, na versão mais atual (pelo menos em terras tupiniquins), encontram-se em um Volume único de belíssima capa com Aslam nos saudando. Para virar filme escolheram as crônicas que falam dos 4 reis: Pedro, Suzana, Lúcio e Edmundo. Mas Nárnia surge antes deles e a crônica que conta seu nascimento (quando Aslam cria Nárnia através do seu canto) é tão bonita quanto a crônica que conta sua destruição.
No filme que está em cartaz, dois dos irmãos voltam a Nárnia, pois reis e rainhas de Nárnia sempre serão reis e rainhas em Nárnia e voltarão sempre que Nárnia precisar. Mas como um tempo de fantasia, apenas as crianças retornam (embora, na última crônica, Pedro volte também).
É claro que vocês sabem que C.S. Lewis (autor de Nárnia) era amigo de Tolkien (Senhor dos Anéis). A mesma atmosfera circunda as duas terras, embora elementos diferentes passeiem por elas, podemos ver seres mitológicos, magia profunda, encantamentos. Bebem de uma fonte que J.K. Rowling bebe mais tarde quando cria Harry Potter. Magia e encantamento não tem idade, feliz das crianças que podem passear por essas terras a vontade!
No fim do livro há um ensaio do autor intitulado “Três maneiras de escrever para crianças”, em um trecho:
“A terceira maneira, a única que sou capaz de usar, consiste em escrever uma história para crianças porque é a melhor forma artística de expressar algo que você quer dizer.”
Como acredito nisso! Ganhei este livro de minha mãe em 2007, engoli suas 751 páginas em 3 dias. Sugiro que façam o mesmo.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Meu lado A, meu lado B


Todo mundo tem seu lado A e lado B, confesso que meu lado B tem muitas e muitas músicas bem interessantes.... No campo literário, meu lado A fica por conta de Zé Saramago, Gabriel Garcia Marques, Ferreira Gullar. Meu lado B, Anne Rice, Dan Brown, Harry Potter.
No meu afã potteriano fiquei tão angustiada de ainda não ter podido ver o filme “Relíquias da Morte” que resolvi reler o último livro. Me arrependi! Ontem vi o filme e ter o livro assim, tão fresco na memória, me fez comparar os dois muito intensamente, coisa que não gosto.
Entendo livro e filme como obras realmente diferentes e, geralmente, respeito as escolhas do diretor, mas, e o filme é ótimo pra que ninguém duvide, ficou a sensação de que muitas coisas deixaram de ser ditas.
O Monstro perdeu parte de sua importância e não foi retratada a sua mudança com a atitude de Potter junto a ele, o retrato de Fineus Nigelus que terá um papel importantíssimo na 2ª parte, não apareceu. Na casa dos Lovegood não foi retratada a singela homenagem de Luna aos seus amigos no teto do quarto e nem o Chifre de Erumpente que é realmente o que explode a casa, já que nenhum Comensal da Morte tinha ordens de matar Potter, o que fica claro desde a 1ª cena na Casa dos Malfoy quando Belatriz se voluntariza a matá-lo e Voldemort nega. A capa da invisibilidade que no livro é utilizada o tempo inteiro (afinal os três, Potter, Rony e Hermione estão em fuga!) não aparece no filme, e é uma das Relíquias da Morte, a que passou para Harry por herança. Desde a cena em que Potter tira a varinha do Draco, ele já possui as três relíquias, ele não sabe, mas poderiam ter dado mais importância para a capa. Não há a cena do aniversário de Potter, é uma pena, porque o presente que ganhou do Hagrid perdeu a importância no filme e será onde guardará seus “teseuros”, o caco de espelho de Sirius, sua varinha quebrada, o Pomo de Ouro e a carta de Lilian que no filme não aparece. Em relação ao casamento , não dá para entender porque Potter apareceria sem disfarce, ele estava escondido, e em uma festa, como explica Fleur no livro, depois de algumas cervejas amanteigadas, os convidados poderiam soltar a língua... Nada ainda foi dito em relação a Ariana, irmã de Dumbledore que explicará porque Alvo usou a Pedra da Ressurreição (a 2ª relíquia) e assim decretou sua morte, resultando no acordo que fez com Snape para salvar a alma de Draco e acabar com o encanto da Varinha das Varinhas. O beijo de Gina ficou perdido no filme, e não mostraram o Vampiro que substituiria Rony em casa, afinal, se todos soubessem que Rony estava com Harry, sua família seria caçada, assim como a discussão entre Lupin e Harry que mostra bastante os seus medos entorno do fato de ser Lobisomen. Não mostra também a preparação da ida ao Ministério e Harry parece não se incomodar em ver o Olho Tonto de Moddy cravado na porta da megera, o que na verdade os denunciam, quando Harry retira-o. O Observatório Potter ainda não apareceu como devia, com os 3 reconhecendo as vozes dos amigos. E uma das cenas mais bonitas, quando o Duda se emociona na despedida com Potter também foi deixada de lado. Em Godric’s Hollon um dos momentos mais emocionantes quando ele e Hermione vêem a placa em frente a sua casa e os recados de apoio a ele, não foi mostrada, assim como a estátua em homenagem a sua família no meio da praça principal, visível apenas aos bruxos. Harry parece não se espantar quando Hermione diz que Godric’s é a cidade de Grifindor, quando sabemos que isso foi uma surpresa para ele. O conflito que ele fica em torno da idoneidade de Dumbledore é minimizado, e no livro, é o que dá o ritmo para suas decisões. Enfim, o filme é ágil, forte, deixou os principais personagens em sua essência aparecerem e desenvolverem, mas deixou momentos delicados e emocionantes de lado. Para os fãs dos filmes, perfeito. Para os fãs dos livros.... Deixou a desejar.
Pontos positivos: a cena em que Rony destrói a Horcrux do medalhão, quando Potter e Hermione aparecem, fantástico! Ela está linda, mulherão e sensual, cruel, uma deusa! E foi uma sacada fantástica fazer sair do medalhão as aranhas, já que Rony tem aracnofobia. Outra cena magnífica é o conto dos 3 irmãos ser contado através de uma linda animação.
Quero fazer o intensivão Harry Potter, assistir os 6 filmes e depois o 7º de novo.
Espero a companhia das pottermaníacas.

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

vou virar mula sem cabeça

Estou apaixonada, perdidamente apaixonada, por um padre!
Vocês, meus fiéis 3 leitores, sabem da minha aversão pela Santa Igreja.
Aprendi desde cedo a relacionar à ela tudo de ruim que havia no mundo: ditadura militar, escravidão, genocídio étnico.
Só consegui olhar de outra maneira quando no IFCS eu estudei (viu, eu estudava lá, viu) sobre a Teologia da Libertação e depois os movimentos estudantis da Ação Popular, JUC (Juventude Universitária Católica) e JEC.
Sempre olhei com bons olhos os frades que lutaram ombro a ombro com nossos irmãos revolucionários, contra a ditadura, porque eles também sonhavam com a revolução e viam em Cristo um caminho.
Noutro dia passei na Livraria Itatiaia e comprei um livro que me chamou: Alfabetto. É a história estudantil do Frei Betto.
Este livro é mais que importante, é necessário.
Para todos que sonham com a revolução (ou já sonharam), para todos que alfabetizam, para todos que contestam a escola tão como é, para todos (que como eu) desconfia da fé católica.


Acabei o livro transbordada em lágrimas e com um profundo e desmedido amor pelo Frei Betto

Não comemoro datas comemorativas


Acho a formação inicial dos professores, ao que tange questões pedagógicas, muito ruim mas, no que diz respeito as questões sociais e políticas é simplesmente inexistente. Se bem que nenhum dos três aspectos pode existir sozinho, como já nos ensinou Freire. Refletir sobre a prática pedagógica é uma reflexão política – não pode ser de outra maneira.
Hoje não comemoro datas comemorativas. Nunca gostei de fantasiar criança, embora ame carnaval, de cada coisa comemorada. Até porque, cada fantasia é um estereótipo que nunca corresponde a realidade, e por isso mesmo, não carece de reflexão.
Algumas datas são momentos de conquista histórica de grupos sociais marginalizados politicamente que, ao exigirem visibilidade, a duras penas marcam sua luta por direitos em um dia de manifestação política. Foi assim com o dia internacional da mulheres, o dia do trabalho, dia da consciência negra.
E o que a escola faz? Cumpre o seu papel histórica, ser a mantenedora do status quo: Esvazia de sentido a data e reforça preconceitos.
Não importa se o dia foi marcado por uma fato real ou construído, o que importa é justamente a escolha que marca a gênese do movimento, quase u mito de origem que significa e dá significado ao próprio manifesto. É o caso do 8 de março, destruído nas escolas por uma bolsa com batom, dobradura de tulipa colado na lixa de unha.
O dia do trabalho já foi destruído pela própria central sindical que distribui eletro domésticos que o salário indigno do trabalhador não consegue comprar. E na escola vendemos o sonho do “Estude, trabalhe e vença” há muito esgotado na prateleira do capitalismo
E começa a ser assim no dia da consciência negra.
Parece que negro só existe na escola em novembro, e de tão exótico, desenhamos, pintamos e colocamos o negro na parede. Parece que negro não são muitos. Parece até que não somos nós.
Nenhuma criança nasce preconceituosa e intolerante, aprende conosco.


Notícias de uma guerra particular

Complexo. Muito complexo. Crianças e jovens “quase todos negros” sem sonhos e perspectivas. Ou sem perspectivas, sonhos são muitos. Mas sem o direito de acreditar neles.
Alemão e Penha, complexo. Vielas, becos, iluminação a gato, casas grandes, barracos, alvenaria, bens.
Necessidades inventadas pra um consumo desmedido. Necessidades reais negadas dia após noite.
Sonhos costurados bordados desfeitos.
Dei aula pra muitos meninos-alunos tinham sonhos. Muitos deixaram de ter, nenhum deles sonhava em ser bandido. Até aqueles que sonhavam com isso, sonhavam na verdade com um mundo negado, o qual viam que o herói-bandido daria conta. Não dá, não deu.
“De que adianta 13 de maio e 20 de novembro se nossos negrinhos continuam correndo do capitão do mato.” Disse uma amiga.
Nossos moleques negros continuam presos num rodamoinho de impossibilidades. Não nasceram marginais, mas nasceram à margem. E, apesar do que sonhamos pra eles, continuam nela.

sábado, 20 de novembro de 2010

(...)


A Bê me perguntou porque eu fiquei dois dias sem colocar nada no blog!
Como me torno responsável pelo que cativo, vão aí mais textos, minha fiel leitora!

Quase dezembro


Vi um menino bem pequetitoco, chorando hoje na rua. Seu pai levava seu irmão no colo e ele ia, meio que arrastado, falando em sua fala miúda e chorosa, uma palavra que compreendi a muito custo. FERIADO.
Seu pai respondia que não era feriado nada, e arrematava: “vambora!”
Oh! Deus! Por que o mês de dezembro inteiro não é feriado?
Existem pessoas (?) que contestam as férias escolares serem tão longas (emendando janeiro com o recesso de dezembro e uma semana em julho).
Quem contesta nunca pisou numa sala de aula.
Não sabe, de jeito nenhum, o que é conviver, durante 200 dias com ideias, sonhos, esperanças, desesperanças, tormentos e angústias de outras 25 pessoas, ou mais, muito mais.
Não entende que são 200 textos lidos, 200 oportunidades de escrita, 200 tentativas de leitura, 200 momentos de reflexão, fora todo o resto.
Foram 200 merendas, 200 recreios e brincadeiras, 200 entradas e saídas, 200 X 200 preocupações, alegrias, choros e risos.
200 esperanças renovadas, e 200 baldes de água fria.
Chega dezembro  e minha mente está assim, meio que vazia, de tantos 200.
Dá pra ouvir grilos. E nenhum deles é falante.

Limão


Fomos passar dias no sítio de um tio. Nós, crianças citadinas urbanísticas suburbanas, víamos lá um mundo de possibilidades.
Tudo foi muito bom: brincar de linguiça na rede, correr de cachorro, descobrir caminho de formiga no mato.
Tudo delícia, mas o que mais marcou foi o limão.
Fizemos amizade com o filho do caseiro e perguntamos como sabíamos que o limão estava bom para ser colhido. E o danado respondeu que era fácil, era só puxar, se saísse estava bom.
Bem, no final de uma tarde, tínhamos arrancado todos os limões do limonzal.
Quando chegamos na casa do sítio, o menino tinha escapulido e nosso tio nem acreditou no tudo de limão que havíamos pego.
Resolver foi fácil, nos obrigou  a fazer limonada de todo aquele limão e tomar limonada em todas as refeições.
Já tomou limonada de limão verde? Não adoça. Nem com reza braba.
Temos aftas até hoje só de lembrar de limão.
É a lembrança azeda mais doce que tenho.

Gato ladrão


Gato criado em casa de pobre é uma tristeza! Aprende mais que cedo a ser um gato ladrão.
Os nossos roubavam de tudo, mas educados na moral da família, preferem roubar na casa alheia. Apareciam lá em casa com: linguiça de paio que estava na pia do vizinho, passarinho roubado de gaiola e até arrastando um temperado peru de natal.
É a lei da sobrevivência!

Fruta no pé


De fruta no pé já comi manga, goiaba, amora, jambo e acerola.
Nada me lembra mais infância do que a carambola.
Era em Magé, subíamos na laje, pela grade da janela da sala, e ali, sentadas, tínhamos todas as carambolas à mão.
Mas comer fruta no pé sem lavar? Jamais! Levantávamos a tampa da caixa d’água, lavávamos e comíamos. Deixando a fruta limpa e a água que mais tarde beberíamos, suja.
Na nossa cabeça, eu juro, fazia sentido.

Duas coisas que descobri sobre ônibus, uma delas assustadora.


Quando era criança, e até a algum tempo atrás, não entendia porque que tinha banco mais alto que o outro no ônibus, achava que era só pra criança ficar feliz. Um dia, olhando de fora entendi que era por causa da roda. Eu entendi, mas me desencantei. As vezes olhando de fora a gente vê melhor, mas corremos o risco de acabar em desencanto.
Minha mãe tinha um acordo comigo e minha irmã. Naquele tempo as crianças entravam pela frente do ônibus para não pagar passagem, e as mães pela roleta atrás. As crianças (pelo menos eu) tinham medo de que o ônibus partisse sem que as mães entrassem. Então a minha me tranqüilizava dizendo que, caso isso acontecesse, bastava ir até o ponto final e esperá-la lá.
Só que um dia (tem sempre um dia) eu li na placa – ônibus circular – e perguntei pra mãe o que era. Ela explicou que era um ônibus que não tinha ponto final. Não convencida ainda indaguei – como assim? Ele faz o trajeto direto, sem parar.
Pronto, meu desespero mudo (porque não queria espantar nem minha mãe, nem minha irmã) se instalou. Imaginei um dia que a minha mãe não conseguisse subir no ônibus e eu ficaria rodando com ele até a gasolina acabar, até eu enlouquecer ou até minha mãe desespera me encontrar.
Que medo!!!!

Como o quintal de casa


Noutro dia fui com meus alunos à Biblioteca do município. Eles disseram que nunca haviam estado em um lugar tão bonito.
Alguns nunca tinham andado de elevador e tiveram medo, um medo infundado, por que o medo não era do elevador e sim do desconhecido que ele encerrava.
Minha irmã tinha medo de escada rolante, a Li ainda tem. O medo da minha irmã é bem fundado, vem de um filme terrível que as mães permitem que as crianças vejam porque travestido de desenho animado. Conta a história de uma pantera, de cor rosa, que passeia no shopping (já pensou?!) e quando ela usa a escada rolante, esquece de pular dela quando chega no topo e é enroscada pela escada e sai lisa, igual um papel, do lado de baixo da escada.
Eu também não gosto de elevador, mas não tenho medo dele, tenho medo de ficar presa nele. Geralmente uso só para elevar, para descer vou de escada mesmo.
Quando estudava no IFCS (embora não tenha quase lembrança de estuda lá, lembro do Mil tocando violão, das reuniões e discussões no Centro Acadêmico, lembro das inúmeras e etílicas festas, de todos os cafés, lembro de um vinho da discórdia trancado no armário, lembro de pessoas (?) jogando RPG, lembro do amor e de beijos e amassos, mas de estudar, lembro pouco) bem, lá no IFCS o elevador ficava longos segundos entre um andar e outro, então eu is mesmo era de escada.
Só que um dia eu caí da escada, cair de escada é igual tomar caixote na praia só que sem água e com bastante dor, desde esse dia passei a andar de elevador pra subir,  pra descer só no IFCS.
Meus alunos andaram de elevador comigo pela primeira vez, foi bom ver a cara deles de primeira vez.
Disseram que a biblioteca era o lugar mais bonito que já foram. Lá é bonito, o projeto arquitetônico é do Oscar e lá mora livros, e mora a moça que Lê o que já faz o lugar magicamente lindo.
Eu nunca gostei de biblioteca, como diz Chico “esse silêncio todo me atordoa”, mas nessa que os alunos foram, pode falar e ouvir, andar, deitar e mexer. Mas eu não queria que lá fosse o lugar mais bonito que eles já tinham visto. Eu queria que fosse igual ao quintal de casa, de tão perto, tão íntimo e tão cheio de possibilidades.

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Brincar de medo


Primeiro reúna seus primos e irmãos. Brincar de medo sozinha é ruim, dá medo! Depois vá para o quarto de seus pais, deite todo mundo na cama de casal e cubra todo mundo com um cobertor bem grosso que não deixe a luz passar. Vá sentindo o medo, até que seja tão grande que alguém saia debaixo das cobertas correndo. Ai que medo!
Se você tiver uma mãe que jogue coisas pela janela, que maravilha! Mais medo ainda! Um dia estávamos brincando de medo e minha mãe ia pelo quintal e batia no vidro da janela. Quando procurávamos a casa estava toda normal, repetiu isso umas duas vezes, na terceira me enchi de coragem e abri a janela. Minha mãe caiu da escada! Tadinha! Não sabia que para nós, filhas de uma corajosa, o medo era só brincadeira de criança!

Casa verde


Foi um dos piores filmes que já vimos, acho que pior foi dos palhaços assassinos! Mas a casa verde era terrível. Um dia uma família acorda e tenta sair de casa para trabalhar, estudar, enfim, viver. Descobre que estão presos dentro de casa, nem portas, nem janelas abrem. Então tentam resolver a questão e acabam descobrindo que tudo na casa, inclusive eles, tem uma marca. De repente esquenta e começa a sair da lareira uma gosma verde... 

Cães


Já vim aqui falar de gatos, mas devo voltar e falar mais. Venho outro depois pra falar de papagaio que morreu atropelado, tartaruga que fugiu correndo e de peixe que se suicidou. Mas hoje vou falar de cães. Não o cão Bob, amigo da gata, amigo quase irmão. Venho um dia pra falar só dele e muitos outros para falar dele também, mas hoje são outros cães.
Quando comecei a trabalhar de noite, no primeiro dia, tinha um cão grande na porta do trabalho que me acompanhou até em casa. Nunca mais vi esse cão. Hoje quando estava indo pro trabalho, um outro cão me encontrou na porta de casa e me acompanhou até o ponto e esperou o ônibus chegar, ele já fez isso outra vez. De alguma maneira eu sei que estou protegida. De todo mal, para todo o sempre. Amém.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Gatos da minha vida


Minha irmã já falou de gatos, se quiser ver como pra ela ficou, vá ler suas crônicas conquistadas ao contrário. Aqui falarei dos miados que enchem minha vida.
Nunca fomos criadas para ter medo. O medo, assim como o nojo, e o preconceito, são ensinados pela sociedade. Na nossa micro – sociedade, a da nossa família primeira, ninguém disse que criança deveria ter medo. Então não tínhamos.
Aliás me veio à memória a nossa brincadeira predileta: brincar de medo, o medo existia para nós no campo das delícias, vejam só! Um dia venho aqui e ensino vocês a brincarem de medo.
Não tínhamos medo de animais: brincávamos com cachorro na rua, tínhamos lagartixas (Hemengarda e Filomena) de estimação; Tínhamos uma aranha (Rosali) também de estimação, fora papagaio, cachorro, tartaruga (que fugiu correndo!). Me impressiona hoje, uma casa que comida em abundância, era escassa, ter tantos bichos pra alimentar.Mas minha mãe tinha medo de gato.
Nosso avô matava gato para comer. Não torçam o nariz, ninguém aqui come galinha, boi ou peixe vivo, tem que matar ué! E também não me venham dizer que o boi foi feito pra morrer, mentira, verdade. Todos nós, pensando no objetivo final da vida, fomos feitos pra morrer.
Eu já comi coelho, e é gostoso. Dizem que gato é parecido com coelho, eu não acredito.
A verdade é que minha mãe era assombrada pelos miados dos coelhos mortos de sua infância. Mas, eis que um dia (sempre tem um dia) que a Mel chegou em nossas vidas, morava no bar do Severino e tinha esse nome porque seu miado era assim, mel, embora gato nenhum mie miau. (o Frodo mia Mriuu)
Queríamos a gata, meu pai trouxe, minha mãe tinha medo que miasse, mas para felicidade de todos, ela não miava miau e sim mel, e então ficou.
Mel teve muitos filhos e mesmo castrada ia procurar gatos pelos telhados da vida, era a melhor amiga do Bob (um cachorro).
Gatos, tivemos muitos: grandes, pequenos, sujos, limpos, doentes, saudáveis, bonitos e feios. Foram embora de diferentes maneiras que a bê já contou (vá logo ler as suas conquistas ao revés).
Hoje os quatro da família primeira, moram em casas diferentes, em cada uma tem gato. Na da bê não tem gato físico, porque a Morgana não conseguiu renovar seu visto de espanhola, mas tem gato em sentimento e em visita, porque a Morgana, sendo bruxa, visita a bê em noites de lua cheia, pode confirmar com ela (com a bê, não com a Morgana, a não ser que você entenda o que ela diz).
Hoje tenho três: Frodo Bolseiro, o primeiro gato transex do mundo (embora seu médico diga que existam muitos, eu nunca vi), Frida Khalo, que nasceu do toco de uma árvore, e Nedjem, o gato preto que mora no meu ombro e vai comigo para onde quer que eu vá.

Memórias

Em tempo recente ouvi Bartolomeu, o de Queiróz, dizer que a memória é a primeira fantasia que carregamos, porque ela encerra tudo o que aconteceu mais, e principalmente, o que não aconteceu, o que poderia ter acontecido, o que gostaríamos que houvesse sido. Adorei essa ideia e fiquei com a sensação de que ela já morava em mim vinda de outro texto, de outro instante, de outra memória.
Noutro dia, caçando livro em uma livraria, pesquei um livro do Frei Betto que se chama “Alfabetto” suas lembranças dos tempos de escola. Quando abri o livro, nos dando as boas-vindas, tinha a Emília, dizendo que em suas memórias contaria suas filmagens na Paramount, e questionada por Dona Benta ela nos diz que em suas memórias estará o que aconteceu e o que deveria ter acontecido. Lembrei que foi dali que encontrei primeiro o que reencontrei na fala do Bartô.
Falando isso, quero dizer que qualquer memória é fantasia e vista de um ponto. Tem coisa que escrevo e me pergunto se foi mesmo assim, mas não importa porque foi assim que ficou em mim e assim que consegue sair. Se Bê ou Alê forem escrever os mesmos anos diminutos, com certeza terão outras cores. Mas este é o quadro que pinto, não só o que quero pintar, mas o único que saberia pintar.
E você, pinta como eu pinto?

“A escola que sempre sonhei, sem imaginar que pudesse existir”

De novo alguém já disse o que eu queria ter dito. Só posso agora dar o crédito a Ruben Alves.
Vendo aquela escola nascer e partilhando, de certa forma, desse parto, me encho de expectativas, sonhos, esperanças, e orgulho, muito orgulho!

Santa Cruz

Esperávamos chover, tinha que ter chovido, e aí pegávamos ervas para fazer chá: cidreira, capim – limão. A erva era a mesma com chuva ou não, mas com chuva nossos pés se afundavam na lama e não tinha coisa mais delícia que essa.
Quando sol, corríamos ou pulávamos elástico. Quando rua, brincávamos na reta do Guandu de parir Macunaíma (seja isso lá o que for).
Salvávamos bode de morrer de fome antes de morrer de corte.
Subíamos na laje da Gláucia.
Comíamos aipim do japonês e nos olhávamos no espelho pequetito que vinha de lá imaginando um palácio nipon.
Enfim, éramos crianças.

Vida provisória e em suspenso

Quando ouvi esse termo; utilizado inicialmente para definir tuberculosos internados em sanatórios e sobreviventes de campos de concentração e hoje utilizado para definir a juventude; quando ouvi esse termo pensei que ele definia tão bem minha vida há pouco tempo.
A sensação era do coiote perseguindo o papa-léguas. Naqueles segundos que ele não cai, mas está com as perninhas (ou patinhas?) sem apoio, e olha pra gente com aquela cara de “vou cair”.
Por incrível que pareça, não caí no abismo profundo.
Mas ainda me sinto andando na corda bamba.

domingo, 14 de novembro de 2010

Minha infância foi toda dos meninos....

Menino Maluquinho, Menino do Dedo Verde, Menino no Espelho, Peter Pan e os meninos perdidos, O Pequeno Príncipe.
Nunca gostei de meninas.

Entre urnas e sonhos


Não tenho esperança na democracia burguesa. A Convergência, que me deu tantos sonhos, me tirou este.
Quando pequetitota, votei com sonhos, muitas vezes no Brizola. Meus pais levavam a gente para votar com eles. Ainda em papel.
Desde os 16 que só voto contra burguês, ou nulo.
Mas no domingo de 2010, sabia que haveria tanta esperança no ar que resolvi me dar também uma emoção, um sonho: transferi o título para a 1ª escola pública que estudei.
Minha sensação, a escola encolheu.
A Escola Municipal Ariosto Espinheira era enorme, do tamanho dos meus sonhos. Nela cabia Peter Pan e toda a Terra do Nunca. Nela cabia eu, minha mãe, minha irmã, meu primo e meu cachorro.
Nela cabia o almoço e a esperança da janta.
Nela cabia as brincadeiras de roda, pique esconde, loura do banheiro, diretora com quatro peitos, disputa de quem come mais banana.
Nela cabia os amigos, os medos, as brigas, as alegrias, o Hino Nacional e o Pelotão da Bandeira. Ilha Perdida, Escaravelho do Diabo, Veleiro de Cristal
Ela era ENORME! Me perdia no corredor e na Biblioteca, corria até cansar no pátio. Bê, pra subir no palco não precisava de uma escada? Ele não era enorme? Quem sentava no fundo da sala, não era lá no fundo mesmo?
Pois então, ela diminuiu.
Ou meus sonhos aumentaram?

Primo irmão


Já começo pedindo desculpas aos outros primos. Os amo também.
Passei momentos de feliz infância ao lado deles.
Não dá pra pensar em fruta no pé sem uns. Não dá pra pensar adolescência sem outras, em Natal sem outros. Mas primo-irmão são três: Anderson – Rodolfinho – Alessandra.
O Anderson é mais velho que eu 8 anos, a Alessandra 2 e o Rodolfinho (eu juro que ele cresceu mais do que o inho que teimo em usar) mais novo 5 anos.
O Anderson devia nos achar umas chatas atrás dele. Mas nunca nos deixou perceber, pelo contrário, fazia tudo que queríamos.
Num dia queríamos fazer comidinhas de amêndoas, mas não podia ser do chão, tinha que ser a do galho e tinha que ser a do galho mais alto. Ele subiu e caiu. Ficou feito morto no chão. Só não quebrou nenhum osso porque ele era o Huck.
Alessandra era tão próxima, tão unida, que ás vezes não sabia se tinha diferença entre nós três (eu, bê e ela). Eu tinha muito ciúme delas. Minha irmã a queria (e quer) tão bem, que parecia quase uma necessidade física tê-la por perto. Mas sempre a amei demais e ela nunca disse não para nenhuma de nossas doideiras infantis. Foram inúmeras.
Rodolfinho nasceu eu tinha 5 anos. Era nosso brinquedo predileto. Fazíamos cada maldade, que se ele deixar, um dia eu conto. Eu levava ele a praia para soltar pipa. Rodolfinho nem sabe, mas foi meu primeiro projeto de responsabilidade.
Hoje Anderson é o pai de 4 filhos lindos. Alsessandra é mãe de 3 maravilhas. Se seus filhos soubessem a metade do que aprontaram...
Rodolfinho ainda não é pai. Contrariando todas as expectativas ele é hoje multi-colorido.

Para as férias de janeiro:


Ria alto. Leia um livro. Pise descalço na grama molhada. Jogue pique bandeira. Beba cerveja, suco ou água. Tome banho de chuva. Tome banho de sol. Use protetor. Tome caixote na praia. Chore se der vontade. Fique perto de quem ama. Ame quem esteja por perto. Dê um abraço apertado. Um beijo demorado. Veja ao menos um por-do-sol. Durma depois da meia noite. Acorde depois do meio dia. Saia sem hora pra voltar. Fique, sem horário pra sair. Veja os amigos que você não viu no último ano. Como coisas gostosas. Faça novos amigos. Vá ao cinema. Veja sessão da tarde. Mexa o esqueleto. Serene sua alma. Saiba dizer sim. Aprenda a dizer não! Mude a cor do cabelo. Faça uma tatuagem. Cultive um novo hábito. Jogue fora um mau hábito. Volte com sorriso e coração abertos para 2011.
(texto ligeiramente modificado. Inicialmente entregue para os pejeiros do Gregório em fins de 2009.)

Assembleia 10


Da janela eu vejo crianças. Não dá pra ver quantas são. Elas correm entre roupas no varal, numa velocidade que não dá pra saber se são três ou se são mil. Tem uma menina com ouro no cabelo, pequena. Só dá pra ver o ouro no cabelo e um sorriso. E têm uns moleques, um maior que outro que também sorri. O dia está cinzento, é centro da cidade, não tem quintal. Mas tem varanda, com roupas estendidas no varal.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Gratidão Eterna

Bruno e Fabianne foram meus cupidos.
Sou eternamente grata a eles.
Me apresentaram ao meu amor de 8 anos e garantiram felicidade eterna (enquanto durou).
Se estivéssemos nos idos de 90 diríamos que eles me 'botaram na fita'.
a fita não toca mais a música, mas ter descoberto o amor, valeu uma vida inteira!

Não se faz amigo bebendo leite

Bem, eu nunca fiz amigo bebendo leite. Até porque eu não bebo leite há anos. Meu estômago é tão sensível.... No entanto, nem sempre fazemos amigos bebendo cerveja.
Fazemos amigos ao longo do relacionamento, rola um bar, um chopp escuro, malzebier, mas nem sempre a amizade se faz ali, entre um gole e outro. E também nem sempre lembramos do lugar e momento exato que pensamos "viramos amigos".
Alguns eu lembro: a Lê lembrou até do dia, 9 deabril, neste dia nos olhamos e pensamos 'seremos amigas'; a Val eu não lembro, acho que foi em outra vida; da Fabianne foi assim: tínhamos tanta coisa em comum, que a gente se reconhecia a cada papo; o Rigoletto eu quase lembro.
O Bruno eu lembro!
Estávamos em um luau, desses com chuva, bebida, rodinha, violão.
Eu devia estar bêbada, mas o Bruno estava mais!
Em um dado momento ele diz: 'você é um travesti!' E eu: 'pode ser, pra você travesti é bom ou ruim?' resposta:'travesti é lindo!' 'então pra você eu sou um travesti!'
Meu amor: Pra ti, serei tudo o que quiseres, é da lei!
Te amo!

Íamos dominar o mundo


Nesta foto, que roubei do orkut do marcelinho, companheiro dos tempos idos, está uma parte da juventude da década de 90, a que acreditava que iria dominar o mundo.
Eu entendo porque nos partidos de esquerda (nos de direita não me importa - me recuso a acreditar que a juventude se presta a ela) é comum associarem à juventude, uma característica tarefeira.
É compreensível, auge dos poucos anos, hormônios em ebulição. crença inabalável que qualquer atividade (lavar banheiro, vender jornal, grampear folhas) iria deflagrar a revolução socialista mundial.
Hoje sabemos que o papel grampeado só faz as folhas não se despencaram, que o banheiro limpo faz o mesmo ficar limpo, e o jornal vendido não garante nem a leitura do mesmo.
Mas naquele tempo, qualquer ação desembocaria, sem sombra de dúvidas, na revolução permanente.
E tínhamos tanto tempo... Dava tempo... 200 reuniões por semana: grêmio, AMES, fórum, núcleo, comitê, zonal, plenária. E quando sobrava tempo , não sei como, mas sobrava, fazíamos clube de filme, cursos de formação, debates, festas e íamos até a sede, pra ficar por ali, ajudando.
Ter todo o tempo do mundo - é o maior presente para quem, com poucos anos, crê na mudança do mundo.
De tudo ficou muita coisa
De mais especial ficou a Val.

Na foto: Eu, Bê, Marcelinho, Carlinhos, Suzana, Valeska, Rafa, Leila...

Minha mãe

Caetano falou uma coisa que eu queria muito dizer. No entanto ele passou a minha frente e disse primeiro. Sou obrigada a repetir como dele, palavras que na verdade são minhas, acreditem:
Minha mãe me deu ao mundo
de maneira singular
me dizendo uma sentença
para eu sempre pedir licença
mas nunca deixar de entrar

Te amo mãe, como o ar que eu respiro!

A maldade carioca

Era o meu primeiro ENEH (encontro nacional dos estudantes de história). Vitória, espírito santo. Acho que na primeira noite teve um luau. Com todas as coisas líquidas e fumacológicas que um luau de historiadores deveria ter, mais o violão e a Legião Urbana. Quando o Rio chegou, chegou cantando:
Abre a rodinha, meu amor
Abre a rodinha por favor
Vamos abrir a roda, enlarguecer

E os luaunenses devem ter pensado: "graça besta, abre logo a roda pra eles sossegarem"
Mas o intuito não era esse, não queríamos nem sentar! A cada tentativa de pais e filhos/ vento no litoral/ eduardo e monica.... a gente puxava um jingle. Foram muitos, o primeiro:
Quem tem piscina tony
tem praia particular
são cinco modelos
pra família aproveitar
Búzios, Ipanema, Parati, Guarujá
Copacabana, leve a tony para casa
deixe o sol te bronzear
e sinta a alegria da família transbordar
piscina tony, alegria da garotada!

Bem, o luau acabou logo, e ninguém mais feliz do que nós.
A meu favor só posso dizer que a ideia não foi minha.

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

pro PROFA, guardei e achei apropriado

O ambiente em que fui alfabetizada não podia ser melhor: livros, jornais, revistas. Papai e mamãe nunca ficavam 1 dia sem ler algum livro, liam mais de uma vez o mesmo livro e explicavam que a história era muito boa. Mamãe dizia: “Cada vez que leio, leio diferente”.
Na hora de dormir, O Pequeno Príncipe ia para o quarto comigo e minha irmã, na voz da mamãe, nós aprendíamos tudo sobre vulcões e rosas, raposas e sentimento de responsabilidade por aquilo que cativamos.
Sabíamos sobre a “Vida íntima de Laura” e até perdoávamos a “Mulher que matou os peixes”.
A biblioteca da penha era, junto com a pracinha do IAPI e a fazendinha, a extensão da nossa casa, não era incomum ver toda a nossa família lendo por horas a fio.
A escola e os livros escolares eram apenas mais alguns instrumentos na maravilhosa aventura que, até hoje é para a nossa família, ler e escrever.

                                                               Amanda Guerra
                                                                    Abril/2005
Foi me perdendo na Terra do Nunca que me achei como leitora.
         Pelas mãos de Peter Pan, aos 3 anos de idade, passeava os dedos pela história, deliciando-me com desenhos encantados de meninos perdidos e piratas. Ao fundo a história pairava, saindo da vitrola, o disco era verde, eu achava lindo.
         A história sendo narrada ao fundo, os desenhos e as letras, todos os dias eu via, ouvia, contava para a minha irmã, mãe, pai primos, gatos, e qualquer leitor atento ou desatento, eu simplesmente, amava a história.
         Todos os dias eu “lia”, um dia percebi que não precisava mais da vitrola e passei a ler sozinha, e comecei a ler outras palavras, outras histórias, tudo começou a fazer sentido, lia sem os desenhos, lia tudo o que eu via.
         Na escola tinha a professora e uma cartilha chata do robô Robin, que me faziam ler palavras...Mas as palavras eram tão poucas, as histórias tão mais legais!
         Pra quem perguntasse, eu respondia: “Minha professora é a Denise, quem me ensinou a ler foi Peter Pan.”
Afetos e sabores
Cozinhar, comer e comemorar são atos que escondem dentro de si os segredos do mundo inteiro e talvez de outros mundos também. Pegar algo que até então era vivo, que precisou morrer para ressuscitar em nossas células, que nutre mas não só o corpo porque o sabor nutre a alma. Transmutação, alquimia, calor. Misturar os ingredientes, mais ou menos podem fazer um desastre, então...provar!
            Depois esperar porque no tempo é guardado o segredo da semente e do sabor, verificar pelo cheiro, o cheiro diz mais do que os olhos podem ver, e então aprender a dividir, não só o prato, mas o espírito, dividir o seu espírito, todo ele que você colocou junto da água na panela e ter a humildade de aceitar que ele será deglutido, devorado, e no final, aceitar e gostar... Aprender que o espírito devorado não some, se transforma junto com aquilo que encontra dentro de outros corpos, humores, estomacais as vezes.
            Existe alimento mais mágico que a batata? Cozida, assada, frita, dorê, lorada...cada uma com um gosto diferente, todas nutrem o corpo por igual, para nutrir a alma tem que encontrar na língua alheia o seu par perfeito.
            Na cozinha tem panela, água, calor, frio, colher, ingredientes, sal, açúcar, afeto...um microcosmo, um universo inteiro, assim como na toca da bruxa.
            A cozinheira e a feiticeira são no fundo a mesma mulher que espera ser devorada, saboreada, deglutida e amada.
31/5/2007