eu e minha metade inteira

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quinta da boa vista, quase ontem

quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

Não comemoro datas comemorativas


Acho a formação inicial dos professores, ao que tange questões pedagógicas, muito ruim mas, no que diz respeito as questões sociais e políticas é simplesmente inexistente. Se bem que nenhum dos três aspectos pode existir sozinho, como já nos ensinou Freire. Refletir sobre a prática pedagógica é uma reflexão política – não pode ser de outra maneira.
Hoje não comemoro datas comemorativas. Nunca gostei de fantasiar criança, embora ame carnaval, de cada coisa comemorada. Até porque, cada fantasia é um estereótipo que nunca corresponde a realidade, e por isso mesmo, não carece de reflexão.
Algumas datas são momentos de conquista histórica de grupos sociais marginalizados politicamente que, ao exigirem visibilidade, a duras penas marcam sua luta por direitos em um dia de manifestação política. Foi assim com o dia internacional da mulheres, o dia do trabalho, dia da consciência negra.
E o que a escola faz? Cumpre o seu papel histórica, ser a mantenedora do status quo: Esvazia de sentido a data e reforça preconceitos.
Não importa se o dia foi marcado por uma fato real ou construído, o que importa é justamente a escolha que marca a gênese do movimento, quase u mito de origem que significa e dá significado ao próprio manifesto. É o caso do 8 de março, destruído nas escolas por uma bolsa com batom, dobradura de tulipa colado na lixa de unha.
O dia do trabalho já foi destruído pela própria central sindical que distribui eletro domésticos que o salário indigno do trabalhador não consegue comprar. E na escola vendemos o sonho do “Estude, trabalhe e vença” há muito esgotado na prateleira do capitalismo
E começa a ser assim no dia da consciência negra.
Parece que negro só existe na escola em novembro, e de tão exótico, desenhamos, pintamos e colocamos o negro na parede. Parece que negro não são muitos. Parece até que não somos nós.
Nenhuma criança nasce preconceituosa e intolerante, aprende conosco.


5 comentários:

  1. É tenso. No Brasil (!!!!) a questão do negro (e tantas outras) ser tratada como algo exótico. Você me orgulha. T.a.

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  2. É Val tenso, mas necessário de ser debatido. Tão difícil....
    E o pior é que fazem "sem maldade" achando que estão acertando. T.a.

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  3. Fora o retrocesso do c******. Me lembro que quando estava na escola, na década de 80(!!!) as crianças pequenas procuravam nos jornais e revistas negros famosos pra postar no mural, e não desenhos de bonequinhos negros. Meo Deos!

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  4. Nossa, concordo PLENAMENTE.

    Fico chocada (é, ainda me choca) com a politização ZERO de boa parte dos colegas. Outro dia na lista de emails da escola alguém falou assim: "não gosto dessas discussões políticas" (e nem estávamos falando de política partidária). Aí eu penso: o que é a educação se não fazer política todo dia. Não entendo mais nada.

    As datas todas existem pra mim para uma chamada à reflexão. Dia da Mulher: por que precisa? Batom e lixa de unha cabe? Ser mulher é isso? etc, etc.

    Mas devo dizer que cansa muito pq a gente fica dando murro em ponta de faca e nadando contra a correnteza. A turma do "também não é assim" é muito grande.

    Beijos pra tu, queridona!

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  5. Amandita, amei o texto, como aliás tenho amado todos os outros daqui.
    Registro que, em relação ao dia 1º de maio, nem sei mais como chamá-lo porque, ao que me consta, de Dia do Trabalhador, ele passou a ser chamado de Dia do Trabalho. Como assim? De fato, perdeu-se o sentido dessa data, como de tantas outras.
    E sobre a questão da igualdade racial, lamentável também, apesar da importância que tem essa data num país muito negro como o Brasil.
    Abração!

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