eu e minha metade inteira

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quinta da boa vista, quase ontem

segunda-feira, 6 de junho de 2011

“Na noite misteriosa das macumbas, os atabaques ressoam como clarins de guerra”

Cheguei enfim ao grande amor do ano, ao livro que me fez me apaixonar, rir, chorar, gritar, sonhar e não dormir. Capitães da Areia. Virou meu livro preferido!!!!
Vou contar um episódio de minha vida para entenderem a relação com a temática: trabalho com alunos que cumprem medidas sócio-educativas, meninos-homens bandidos (?!) delinqüentes, de rua, na rua, e apesar de toda a crueldade em seus atos, seus olhos, quando permitem que olhemos, ainda trazem doçura. Não posso deixar de pensar o que lhes faltou e o que lhes sobrou ao longo da vida. Conversando com eles na época em que estava lendo Capitães da Areia, um desses alunos chegou pra mim e perguntou se eu era casada, disse que não, ele me pediu em casamento! Eu ri, levei na brincadeira, disse que ele era muito novo pra mim, ela argumentou, sabiamente, que pra essas coisas idade não tinha problema nenhum não. Ele perguntou se eu casava com ele, mas por trás disso tem um monte de outras perguntas: você mês escuta?, você me dá atenção?, você me dá bronca?, diz que eu to errado? Me defende? Dá o que eu não tive nunca?
Mas mais do que essa questão, Capitães da Areia é a Bahia que eu pisei, é a Bahia que eu não pisei, é o imaginário dos delinquentes, esfarrapados, andarilhos, dos Exus e Pombas-giras, das macumbas e batuques, é a Bahia de Todos os Santos e de todas as crenças. E é também a Terra do Nunca. Sim, porque tantos pros meninos perdidos como para os capitães, crescer era impossível, era a expulsão do mundo que viviam. E ambos tinham seu Pedro.
“Vestidos de farrapos, sujos, semi-esfomeados, agressivos, soltando palavrões e fumando pontas de cigarro, eram, em verdade, os donos da cidade, os que a conheciam totalmente, os que a amavam, os seus poetas.” Capitães da Areia
“Tome muito cuidado se lhe aparecer uma aventura porque, se você for em frente, vai acabar mergulhando em um desespero profundo” Peter Pan
“Todos queriam sangue, menos os meninos perdidos (mas poderia ser os Capitães) – que em gral, também queriam, mas esta noite só saíram para cumprimentar seu chefe” – Pedro Bala ou Peter Pan?
“Na sua frente estava a cidade misteriosa, e ele partiu para conquistá-la. A cidade da Bahia negra e religiosa, é quase tão misteriosa como o verde mar.”
“Havia, é verdade, a grande liberdade das ruas. Mas havia também o abandono de qualquer carinho, a falta de todas as palavras boas.”
E a Wendy não é a Dora: irmã, mãe, noiva e esposa????? As duas costuravam, cantavam para eles dormirem, a princípio não iam para as ruas, depois quiseram conquistar seu espaço.
Sou louca por Peter Pan e fiquei louca com Pedro Bala, amando Barrie e Jorge Amado, crio uma ponte entre dois mundos fantásticos. Viva a Literatura!

2 comentários:

  1. Ô Dinha, que beleza ver a tua crônica, que bonitas as palavras e a vida que há nelas. E que maravilha ver você fazendo literatura comparada com tanta propriedade. Você é mesmo boa em tudo que faz.

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  2. Bê, tem uma parte no capitães que um dos meninos dá um cocoricó, igual ao Peter Pan, não pode ser coincidência, tem que ser inspiração... nem que seja divina!!!

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