eu e minha metade inteira

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quinta da boa vista, quase ontem

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Começar pelo meio

Como vocês sabem a Prefeitura do Rio tem um projeto chamado “Rio, uma cidade de leitores”, dentro deste projeto temos uma ação da Secretaria de Educação, a “Biblioteca do Professor”. Quatro vezes ao ano escolhemos pela internet entre alguns títulos nacionais e estrangeiros, 2 livros, os 4 mais votados (sendo 2 nacionais e 2 estrangeiros) chegam as escolas para que cada professor escolha 2 (1 de literatura nacional e o outro de literatura estrangeira). Essa explicação toda não é para fazer propaganda da Prefeitura, mas para introduzir o que falarei a seguir: como o caminho para a formação do leitor e muito especificamente, do professor leitor é árduo e esquisito.
Tive o prazer de, neste último fim de semana participar da jornada CESPEB (programa de especialização em Educação Pública da UFRJ) e ouvir uma fala que gostei muito e que casou com um livro que estou lendo “Caminhos para a formação do leitor”. Na jornada, uma professora falando sobre leitura literária nas escolas, falou que é importante dizer que nem sempre leitura é delícia, as vezes ler é muito difícil, exige uma concentração e dedicação muito grande, no livro, Ricardo Azevedo nos fala que precisamos desmistificar essa imagem da leitura como um mundo perfeito e mágico, por que  a literatura, por tratar de assuntos humanos, portanto contraditórios e complexos, muitas vezes é dolorosa. Lembrei dos textos que li e nunca entendi,  da dificuldade de saber o que Hanna Arendt queria dizer, por exemplo, mas lembro de ler (e trocar com a Val) livros de Foulcault como se fosse literatura, aliás, leio com igual tesão e descompromisso livros de literatura e livros de psiquiatria, direito, história, sociologia, pedagogia.
Mas enfim, o que vim aqui dizer é, que apesar de poder mos contestar a política de entrega dos livros, dizendo que o ideal era termos um salário digno que nos permitisse comprar o bem que nos conviesse, é inegável que muitos professores desprezam por completo esta iniciativa. Alguns dizem, em redes sociais por exemplo, que nenhum livro até o momento prestou, que todos os títulos são horrorosos, pondo em cheque a seleção dos livros e até mesmo a escolha (só pra dar uma ideia já recebemos: Saramago, Pablo Neruda, Chico Buarque, Daniel Pennac, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector, Mario Quintana, Maria Colasanti, Gabriel Garcia Marques e Dostoievski, só pra citar os mais famosos), muitos professores simplesmente não pegam os livros e alegam os mais variados porquês: não tenho lugar pra guardar, não gosto de ler, não me interesso por literatura (essa veio de uma professora de Português!!!), e a maior de todas, não tenho tempo de ler. Bem, eu devo ser uma pessoa absolutamente a toa e que tenho o privilégio de fazer o que quiser com o meu tempo, porque sempre estou lendo!
Cada vez mais acho que a formação do leitor deve ser intensificada com os professores, formadores em potencial. Como dizer que ler é mais do que delicioso, é NECESSÁRIO, vital, se eu acho normal passar um dia inteiro sem ler uma linha de um livro (ou de um blog,RS)?! Como acordar, tomar café, pegar um ônibus, sem um livro no colo???
Eu começo as reuniões com os professores do CIEP com uma leitura, sempre. Cinco minutos, é muito? E se todos nós fizéssemos isso? Fazer com os adultos aquilo que gostaríamos que eles fizessem com as crianças?
Começar do começo ou do meio ou do fim, mas com a certeza que é preciso começar.

3 comentários:

  1. E tem aqueles professores que acabam chegando em casa com muito mais de 2 livros, como a nossa mamãe, porque convence os outros a darem pra ela. :-) E faz muito bem, porque ela me disse que ouve coisas do tipo "ah, leva, eu não vou abrir isso mesmo".
    E esses troços que se dizem professores e criticam os títulos queriam o quê? Paulo Coelho???

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  2. Isso Bê, tem a mamãe que pega (e lê) todos, mas seria uma delícia poder, saber, que nossos colegas valorizam, aguardam ansiosamente o livro chegar. Fico pensando, será que desejam Paulo Coelho, pode ser.... sei lá! Acho que não querem nada não, só reclamar!

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  3. Ah, sim Dinha. A maravilha seria que todos os professores ficassem brigando pelos livros e que pedissem ao governo mais do que 2, já pensou? Sobre o Paulo Coelho, acho que nem isso eles querem né? Tristeza...

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